Jorge Luis Borges
O SUICIDA
Não
restará na noite uma estrela.
Não
restará a noite.
Morrerei,
e comigo a soma
do
intolerável universo.
Apagarei
as pirâmides, as medalhas,
os
continentes e os rostos.
Apagarei
a acumulação do passado.
Transformarei
em pó a história, em pó o pó.
Estou
mirando o último poente.
Ouço o
último pássaro.
Deixo o
nada a ninguém.
XADREZ
I
Em seu
grave rincão, os jogadores
as
peças vão movendo. O tabuleiro
retarda-os
até a aurora em seu severo
âmbito,
em que se odeiam duas cores.
Dentro
irradiam mágicos rigores
as
formas: torre homérica, ligeiro
cavalo,
armada rainha, rei postreiro,
oblíquo
bispo e peões agressores.
Quando
esses jogadores tenham ido,
quando o
amplo tempo os haja consumido,
por
certo não terá cessado o rito.
Foi no
Oriente que se armou tal guerra,
cujo
anfiteatro é hoje toda a terra.
Como
aquele outro, este jogo é infinito.
II
Rei
tênue, torto bispo, encarniçada
rainha,
torre direta e peão ladino
por
sobre o negro e o branco do caminho
buscam
e libram a batalha armada.
Desconhecem
que a mão assinalada
do
jogador governa seu destino,
não
sabem que um rigor adamantino
sujeita
seu arbítrio e sua jornada.
Também
o jogador é prisioneiro
(diz-nos
Omar) de um outro tabuleiro
de
negras noites e de brancos dias.
Deus
move o jogador, e este a peleja.
Que
deus por trás de Deus a trama enseja
de
poeira e tempo e sonho e agonias?
(Traduções
de Renato Suttana)
......................................................................
Jorge Luis Borges nasceu em 1899 na cidade de Buenos Aires,
Argentina, e morreu em Genebra, Suíça, em 1986. Entrelaçando ficção e fatos
reais, Borges concentrou-se em temas universais, o que lhe garantiu
reconhecimento mundial. É considerado o maior escritor argentino de todos os
tempos e um dos mais importantes nomes da história da literatura.
Confiram sua última entrevista!
Nenhum comentário:
Postar um comentário
O administrador do Blog do Conservatório não publicará comentários anônimos. Por favor identifique-se. Obrigado.