Que as paredes comecem a tremer.;............tanta beleza que ainda há nesta terra....
me quedo, me rendo, me impregno desta maravilha! Obrigado mais uma vez meu caro Drummond!
ANOITECER
A Dolores
É a hora em que o sino toca,
mas aqui não há sinos;
há somente buzinas,
sirenes roucas, apitos
aflitos, pungentes, trágicos,
uivando escuro segredo;
desta hora tenho medo.
É a hora em que o pássaro volta,
mas de há muito não há pássaros;
só multidões compactas
escorrendo exaustas
como espesso óleo
que impregna o lajedo;
desta hora tenho medo.
É a hora do descanso,
mas o descanso vem tarde,
o corpo não pede sono,
depois de tanto rodar;
pede paz — morte — mergulho
no poço mais ermo e quedo;
desta hora tenho medo.
Hora de delicadeza,
gasalho, sombra, silêncio.
Haverá disso no mundo?
É antes a hora dos corvos,
bicando em mim, meu passado,
meu futuro, meu degredo;
desta hora, sim, tenho medo.
mas aqui não há sinos;
há somente buzinas,
sirenes roucas, apitos
aflitos, pungentes, trágicos,
uivando escuro segredo;
desta hora tenho medo.
É a hora em que o pássaro volta,
mas de há muito não há pássaros;
só multidões compactas
escorrendo exaustas
como espesso óleo
que impregna o lajedo;
desta hora tenho medo.
É a hora do descanso,
mas o descanso vem tarde,
o corpo não pede sono,
depois de tanto rodar;
pede paz — morte — mergulho
no poço mais ermo e quedo;
desta hora tenho medo.
Hora de delicadeza,
gasalho, sombra, silêncio.
Haverá disso no mundo?
É antes a hora dos corvos,
bicando em mim, meu passado,
meu futuro, meu degredo;
desta hora, sim, tenho medo.
© CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
In: A Rosa do Povo, 1945 e
ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia Completa. São Paulo: Nova Aguilar, 2002
In: A Rosa do Povo, 1945 e
ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia Completa. São Paulo: Nova Aguilar, 2002
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e basta, poesia por ela mesma..................mas em tempos de hoje, sou surpreendido por um rapto do poema, em voz que se dirige à canção.............e se torna uma extênsão particular. de Drummond........mais uma vez ressalto aqui o mundo de Zé Miguel Wisnik...........retratando a Balada poética, numa valsa balada se assim posso chamar........mas particularmente iludindo o mundo com outro tipo de beleza, uma destas belezas comovidas-sentinelas.........beleza de poeta para poeta, entregue a corações que querem ainda o ardor da arte.
Que maravilha Wisnik............sua obra enaltece a canção brasileira e afirma o bom gosto de qualidade.
É para se calar, e se perder no silêncio profundo do ouvir...........
...instrumentos servindo com maestria à composição do Gênio.....Pra mim, Gênio que a cada dia me faz perder mais em sua obra...
Então vamos - "Ouviver a música...", como já disse Décio Pignatari...
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