Este vídeo é muito interessante.. e super criativo... Vejam que determinadas músicas do unvierso "pop" foram compostas em cima de quatro acordes....e tudo começa com os acordes de uma música da banda americana - Journey - Don't Stop Believin - ....(o vídeo mesmo com uma grande caída na comédia.... é válido....)
Vamos experimentar - Observem a estrutura dos acordes - I - V - VIm - IV - Ex em Dó: C - G - Am - F ou em Mi: E - B - C#m - A(tom original do vídeo.). Fiquem de olho no andamento e toquem!
No último encontro da Imagem Musical fomos pesquisar um pouco sobre este instrumento tão íntimo que é o violão. Apresentamos história, conceitos e principalmente os grandes intérpretes e obras deste instrumento.
Propús para os alunos dar continuidade à pesquisa e assim recebo do nosso aluno e amigo James Roberto este grande documentário da história do violão em Minas Gerais. E assim compartilho com todos vocês.
... o mais belo das palavras........altar da morada infinita!
Difícil fotografar o silêncio (Manoel de Barros)
Difícil fotografar o silêncio. Entretanto tentei. Eu conto: Madrugada, a minha aldeia estava morta. Não se via ou ouvia um barulho, ninguém passava
entre as casas. Eu estava saindo de uma festa. Eram quase quatro da manhã. Ia o silêncio pela
rua carregando um bêbado. Preparei minha máquina. O silêncio era um carregador? Estava carregando o bêbado. Fotografei esse carregador. Tive outras visões naquela madrugada.
Preparei minha máquina de novo.
Tinha umperfumede jasmim no beiral do sobrado. Fotografei o perfume. Vi uma lesma pregada na
existência mais do que na pedra. Fotografei a existência dela. Vi ainda um azul-perdão no olho de um mendigo.
Fotografei o perdão. Olhei uma paisagem velha a desabar sobre uma
casa. Fotografei o sobre. Foi difícil fotografar o sobre. Por fim eu
enxerguei a nuvem de calça. Representou pra mim que ela andava na aldeia de
braços com Maiakoviski -- seu criador. Fotografei a nuvem de calça e o poeta. Ninguém
outro poeta no mundo faria uma roupa mais justa para cobrir sua noiva. A foto saiu legal.
Um dos músicos mais talentosos da atualidade é o nosso destaque desta "sessão...". Compositor e grande improvisador, Írio Júnior consegue hoje ter uma linguagem própria de alta qualidade. Músico de formação erudita, que passou por todos os estilos musicais, tocando em bailes e experimentando todas as fronteiras do jazz, temos aqui um grande pianista com uma técnica e criatividade fora do comum. Integra atualmente o grupo do também grande músico Nenê. Aprendam e desfrutem de três grandes momentos deste gigante da música e depois vasculhem seu universo sonoro pela internet. Surpreendente!
Temos a honra de receber as preciosas palavras da professora e pianista - Eldah Drummond. Durante muitos anos dedicados à música, esta notável amiga e profissional formou grandes íntérpretes, compositores, improvisadores e excelentes ouvintes durante toda a sua carreira. Eldah Drummond lecionou em Faculdades, Conservatórios e Escolas de Música. Participou e promoveu concursos de piano e sempre esteve preocupada com a melhor formação de seus alunos. Hoje trabalha na Coordenação da Classe de Piano do conceituado Festival Música nas Montanhas de Poços de Caldas e leciona aulas particulares na cidade de Lavras. Tenho certeza que vocês vão aprender muito com esta entrevista. Anotem todas as dicas e nosso boa viagem ao mundo da Música. Desfrutem...
Satie - Eldah, grande prazer tê-la conosco neste espaço super
enriquecedor do blog. Você como professora de piano e também de educação
musical, como está vendo o ensino da música atualmente em nosso país? Qual sua
opinião sobre as faculdades brasileiras de música à distância?
Eldah - Caminhamos ainda em andamento “Adagio”
se analisarmos o percentual de jovens brasileiros educados musicalmente. Faltam
professores envolvidos de forma significativa com a Educação Musical em
decorrência de uma cultura bastante opaca neste sentido. Apesar da criação de
leis e alguns projetos, a maioria dos brasileiros ainda tem grande deficiência
no que diz respeito a conhecimento de música e em Música. Desde 2011 está em
vigor a lei que estabelece a obrigatoriedade da Música nas escolas, mas não
acredito que só a aprovação desta lei trará os benefícios necessários para que
nossa juventude entre no mundo da música e vivencie o universo musical que é
tão extenso e intenso. Falta a consciência desta prioridade nos políticos e
dirigentes de escolas – a maioria desconhece o valor e a capacidade de
transformação do ser humano através da Música.
Quanto às faculdades a distância, poderá
ser uma valiosa oportunidade para todos os que não conseguem, por motivos
diversos, estar presentes nas cidades onde existem faculdades presenciais. Não
posso avaliar esta questão por não conhecer o corpo docente, as propostas, as
metas e objetivos, assim como os resultados que vêm sendo obtidos na atualidade
através destas Instituições.
Satie - Ao longo de sua dedicada profissão, você formou muitos talentos
que hoje são profissionais de destaque no cenário brasileiro e também
internacional(Citando alguns: Clayton Prosperi, Hélcio Baroni, Bruno Camargo, Írio Júnior, Wilke lahman, etc). Que dica você daria para nossos leitores alunos que estão
querendo tentar este caminho na música?
Eldah - Entrem de corpo e alma nos
objetivos a que se propõem. Estudem muito, busquem conhecimento em festivais,
cursos, bons contatos. Ouçam muita música, leiam bastante, não se satisfaçam
com migalhas! Corram atrás!
Preparem-se e sejam competentes na
profissão que escolheram e seus espaços estarão garantidos.
Satie - Como vai hoje a Eldah ouvinte? O que tem ouvido? Que intérpretes
têm te chamado mais atenção?
Eldah - A Eldah ouvinte
vai muito bem; não economiza quilometragem para ouvir boa música ao vivo. São
Paulo e BH oferecem excelentes programações, além da TV Senado aos domingos
trazer sempre orquestras de alto nível como a de Nova York e a de Berlim.
Ganhei três Cds incríveis: 1) “ Homenagem a Gilberto Tinetti”: ele toca o trio
de Brahms para clarineta e cello com Luiz Afonso Montanha e Robert Suetholz –
em seguida, o quinteto de Elgar para piano e cordas com o grupo Ensemble SP.
Magníficos!
2) “Brasilianishe Kammermusik” com o pianista Michaele Uhde e seu
Trio Schumann interpretam compositores brasileiros: Oswald, Mignone, Guarnieri
e Gallet. Depois de assistir ao vivo, já ouvi várias vezes e é sempre
surpreendente! 3) O pianista Eduardo Monteiro interpreta Henrique Oswald em
dois quintetos para piano e cordas com os excelentes músicos do Ensemble SP,
além de alguns duos. Betina Stegmann e Nelson Rios nos violinos, Marcelo Jaffé
na viola e Bob Suetholz no cello. Grande pianista o Eduardo, faz música com
brilhantismo, vigor e sensibilidade, vale a pena conferir! Fiquei encantada com
a obra de Oswald e através destes Cds pude admirar, conhecer e reverenciar este
grande nome da música brasileira. http://www.concerto.com.br/textos.asp?id=341 Canto Elegíaco - Henrique Oswald
Satie - Durante seus estudos e formação musical, quais eram os
compositores que você tinha mais afinidade para tocar e por que?
Eldah - Na minha juventude não
fugi muito à regra dos adolescentes apaixonados por Chopin e seu romantismo
inconfundível. Sua música tão bem elaborada com harmonias repletas de surpresas
e sutilezas sempre chegou como “amor à primeira vista”, mas depois ficava no
rol das preferências, para a cada escuta uma nova descoberta! Debussy sempre me
chamou a atenção, quer pelas características de uma roupagem diferente quer
pela nova linguagem ao expressar imagens, paisagens, personagens, em matizes de
cores infinitas... Gostei muito de estudar Liszt e Ravel: um dos Sonetos de
Petrarca
e o Rève D’amour assim como a Sonatina deste último citado
Acho a
questão de afinidade um pouco complicada, pois em cada obra, iniciado o estudo,
temos que buscar o máximo de aproximação com o compositor senão o estudo não
traz bons resultados. Foi assim com Bach e Beethoven. Em cada um deles tentava
compreender suas intenções para conseguir executá-los com minha pouca
maturidade – assim constatei com o passar dos anos (a questão da maturidade).
Satie - Você saberia nos falar quais são suas três obras musicais
inesquecíveis? E também seus três intérpretes imortais?
Eldah - Considero bem difícil
responder esta questão, pois grandes compositores nos oferecem uma quantidade infinita
de obras primas. Os três Bs: Bach, Beethoven e Brahms. Mozart, Chopin e
Schumann, Mendelssohn, Grieg e Dvoràk, assim como os modernos, os espanhóis
Granados, Albeniz e de Falla, nos deixaram um legado riquíssimo entre
instrumento solo, música de câmara e orquestra. Assim, vejo dificuldade em
apontar três preferências, mas vou escolher as que me sensibilizam bastante
quando ouço: - Elgar: Variações sobre o tema “Enigma”, em especial o tema e a
variação nº 9, Nimrod.
Chopin: A 1ª Balada.
Grieg: a 1ª Suite Peer Gynt.
Na
escolha de três intérpretes ficaria com: Arturo Toscanini
e Bernstein como
regentes,
Glenn Gould para Bach
e Mitsuko Uchida para Mozart.
Satie - Pela sua experiência, como você vê a importância do professor de
música continuar estudando e tocando?
Eldah - A premissa “faça o que eu
digo e não o que eu faço” não angaria bons resultados quanto pretende. O mais
confiável seria: “faça como eu faço ou melhor”; estude, estude e estude para
aprender a tocar e fazê-lo de maneira especial. O professor é o exemplo mais
próximo que o aluno tem e assim sendo, tem a obrigação de “colocar a mão na
massa” e demonstrar sua capacidade através do exemplo.
Satie - Eldah, responda: - O que é música?
Eldah - Música são sons em
movimento transformados em arte quando ultrapassam os limites dos sentidos
comuns, interagindo com o nosso eu mais íntimo de forma simples ou
rebuscada, mas sempre significativa. Manifestação de sentimentos através dos
sons, que interligados através de ritmos e harmonias trazem à tona as vivências
mais profundas de nossa alma.
Gostaria de deixar aqui, para reflexão
das pessoas envolvidas com a Música, uma citação:
“Pesquisadores e estudiosos vêm tratando
paralelos entre o desenvolvimento infantil e o exercício da expressão musical,
resultando em propostas que respeitam o modo de perceber, sentir e pensar, em
cada fase, e contribuindo para que a construção do conhecimento dessa linguagem
ocorra de modo significativo.” PCN – BRASIL Parâmetros Curriculares Nacionais –
Arte).
Será que professores de Música
brasileiros em escolas especializadas ou escolas regulares compartilham esta
citação e buscam desenvolver um trabalho pautado no ideal desta proposta?
Um abraço a todos,
Eldah Drummond ................ Mais uma vez ficamos honrados com esta super presença e agradecemos imensamente esta grande musicista. Até a próxima pessoal!
.................caros
amigos...............no meio deste caos que está a vida..............em julho
tive um "assombro" de luz e maravilha. Minha irmã esteve em
Salzburgo, na Áustria, terra de nascimento de meu querido compositor Wolfgang
Amadeus Mozart e assim trouxe-me uma caixa fabulosa com a obra completa deste
mestre em 170 cds.......
Vocês não fazem ideia do que é possuir toda
obra a um toque de minhas mãos.............Sempre tive esta vontade e como num
passe de mágica, esta graça foi me concedida.......agora me refiro a ela como
minha caixa mágica........
Confesso que tenho estado em encontros sublimes com
este fabuloso gênio e sua música.........................Deixo aqui um link para download de toda a obra do mestre,
cedida pelas autoridades da cidade, que acharam por bem maior disponibilizar
todo este tesouro........Agora como eu, todos vocês também poderão aos poucos
procurar e ouvir estas preciosidades tão grandiosas..............
Este é um super presente da Imagem Musical a todos vocês.
Faz tempo que queria recomendar este texto do meu amigo e poeta Ailton Rocha. Aqui temos uma síntese muito lúcida para conhecer este grande conjunto do rock progressivo.
Acompanhem o histórico da banda e depois procurem os álbuns para uma audição mais cuidadosa e profunda. Agradeço a gentileza do Rocha por ceder este texto para nosso blog.
Boa viagem...
PINK FLOYD – O Coração Oculto
da Lua
A importância do grupo
britânico Pink Floyd é inquestionável pela contribuição ao rock psicodélico do
final dos anos 60 e ao rock progressivo
dos anos 70; enfim, independente de movimentos ou modismos, os cinco músicos
(Barrett, Waters, Gilmour, Wright e Mason) que formaram o grupo em diferentes
etapas, já enriqueceram a música em geral, através de uma coesa estrutura de
harmonia e lírica. Na fase inicial, verifica-se uma nítida influência de blues
e jazz associada a sons espaciais colhidos do genial compositor Bela Bartók e
com inspiração nos temas de autores de ficção científica, além de pesquisas com
ritmo árabe, microtons indianos, e experimentações eletrônicas e concretistas,
inspiradas na música erudita moderna. Em 1973, Pink Floyd, com uma sofisticada
instrumentação, atingira a maturidade ao criar um estilo diferente de tudo
antes ouvido, e que se tornou marca registrada: guitarra e bateria ricamente
melódicas e sem virtuosismo, baixo com som de coração pulsante, teclados com
arranjos elaboradíssimos. Enfim, criatividade inesgotável que prevaleceu até o
instante em que a egolatria de um dos membros fragmentou a unidade do grupo.
A Fase Barrett: 1966-1969
Constituído de estudantes
de arquitetura da classe média da Inglaterra conservadorista, Pink
Floyd surgiu em 1965, sendo integrantes do grupo o sui generis letrista e
compositor Syd Barrett na guitarra e vocais; Roger Waters, também
compositor, no baixo e vocais; Richard
Wright, um tecladista apaixonado por Beethoven, e Nick Mason, um dos bateristas
mais criativos que já existiram.
Batizando a banda a
partir dos nomes de Pink Anderson e Floyd Council, dois tecladistas de
blues, Barrett, o primeiro líder, direcionou os propósitos. A música teria
letras com teor psicodélico, cujo tema, entre vários, seria a busca do
indíviduo nos meandros de sua própria mente, além, é claro, da referência
aos efeitos dos alucinógenos. O som também refletiria essa sensação. Era o
surrealismo chegando até a música popular.
Mas o período
liderado por Barrett durou pouco, seja porque ele mesmo tenha mergulhado em uma
viagem sem retorno ao mundo do LSD e congéneres, tendo que ser afastado de suas
atividades de letrista e compositor principal, seja porque Roger Waters,
um outro membro da banda, vinha, aos poucos, assumindo o comando.
A Fase Waters: 1969-1982
David Gilmour, em 1968, toma o lugar
de Barrett como guitarrista solo; a
princípio paralelamente, e depois, a partir de 1969, totalmente. Com sua
guitarra compõe a marca registrada e inconfundível da beleza melódica do
Pink Floyd. É um guitarrista diferente, não há pressa nele, é
infenso a solos rápidos, mas, com segurança, de maneira calma, vai
conduzindo a música que brilha -em tons de amarelo-cromo rumo ao desconhecido
de nossa mente. Wright, de formação erudita, cujo órgão é um dos
principais responsáveis pelo som espacial do grupo, preenche as pausas
dessa guitarra despreocupada para que ela atinja os seus vôos na viagem
pinkfloydiana. Nick Mason não é apenas responsável pelos efeitos percusivos;
ele, na verdade, conduz o ritmo como melodia indissociável da
marca sonora do grupo. A bateria não acompanha simplesmente, mas aparece
com frequência como instrumento solista, com o auge criativo nas suites “Atom
Heart Mother” e “Echoes”.
Assim, o Pink Floyd
foi se direcionando a um som cada vez mais elaborado. As pesquisas sonoras,
buscando ritmos árabes e melodias indianas, como é o caso de Set the Controls for the Heart of
the Sun, ou desenvolvendo ruídos e sensações vindas do
espaço profundo como Astronomy
Domine e A
Saucerful of Secrets, chegaram a um nível de sofisticada
criatividade jamais vista até então em um grupo de rock. Nos diversos
caminhos e experimentações dessa fase inicial ocorreram álbuns como Atom Heart Mother e Meddle, obras geniais,
sendo que no primeiro tiveram a colaboração de um arranjador erudito
moderno, Ron Geesin, aproximando-os dos efeitos de uma música concreta ainda
mais elaborada; e, no segundo, já com uma sonoridade mais característica do
grupo, chegam àqueles resultados incríveis de Echoes, a peça conceitual de Meddle,
que muitos consideram o melhor álbum da primeira fase do grupo. A sensação
é de estarmos em um submarino, e a música, vinda das galerias marítimas,
chega até nós em ecos aquáticos. O texto que se canta aí é dos melhores
possíveis. As letras de Waters, com influência do poeta inglês
William Blake, embora não admitida, são verdadeiros poemas, de beleza plástica
que ainda não vi se repetir no mundo do rock.
Até então, nos
princípios dos anos 70, o Pink Floyd era um grupo frequentado e respeitado
principalmente pelas elites universitárias, com um nítido reconhecimento em
vários países da Europa, principalmente na França. Mas a fama internacional
ainda não tinha acontecido. Esta só viria a partir de 1973, iniciando a segunda
fase do grupo, com o lançamento do álbum The
Dark Side of the Moon. Antes de esgotar totalmente o lado
‘underground’ do rock psicodélico, de que fora talvez o mais
importante representante, o grupo se renovou, superando o estilo da época,
embora ainda utilizasse o concretismo. No momento em que muitos
pensavam que os rapazes, após pelo menos três álbuns de excelente
qualidade, estavam esgotados e não havia como não se repetirem, aparece The Dark Side of the Moon,
uma das obras mais ricas e instigantes não apenas do rock, mas de todos gêneros
populares de música. Para se ter uma idéia da aceitação e da perenidade do
álbum, consta que no primeiro ano já havia recebido o disco de
platina, que significa um milhão de dólares vendidos, trocando em miúdos, um
caminhão dos grande cheio até a boca de dinheiro. Até hoje, após 30 anos no
mercado, o álbum está entre os mais vendidos na Inglaterra, nos EUA, e em
muitas partes do mundo. Confunde-se, normalmente, a quantidade de venda com o
real valor de um trabalho, pois nem sempre andam juntos, amparado que são pela
máquina publicitária, mas não é o caso deste trabalho admirável. O valor
artístico, fora de dúdivas, prevalece. Desde o tema - o lado escuro da lua
-, sobre a alienação mental, a mesma loucura de que fora vítima o primeiro
líder Syd Barrett, talvez já incubada e depois agravada pela ingestão de
drogas, até a inegável originalidade do som, o álbum não perde o nível
proposto. Canções como Time,
Money e Us and Them, que se
tornaram hits,
atingiram o raro resultado de agradar tanto ouvintes intelectualizados como
outros mais coquetes e despreocupados diante de questões filosóficas. E
filosofia é a marca de Time,
a descrescência do tempo, a incapacidade de segurarmos o sol que nasce e se põe
incontáveis vezes, e, nesse incessante aparecer e morrer vem a idéia
da eternidade e, do mesmo modo, a efemeridade da vida. As
palavras são algumas das melhores realizações de Waters como poeta,
muito acima de simples letrista. Money,
fortemente social, trata das questões econômicas do capitalismo. Us and Them, de
beleza melódica marcante, é permeada de um doce e melancólico saxofone,
porém áspero nos momentos de clímax. O álbum desfecha em Brain Damage e Eclipse, com a voz de
Waters cantando e tentando sentir a dor de seu amigo Barrett em alienação,
perpassada de angústia e riso que gela a alma, já que se trata da
loucura, circunstância em que o espírito mergulha na noite dos sentidos.
Além dessas mais festejadas, há The
Great Gig in the Sky, que até hoje impressiona.
Neste álbum, a meu
ver, está também uma das mais geniais e criativas contribuições de
Roger Waters como arranjador de seu próprio instrumento, o baixo. De ponta
a ponta do álbum há um som pulsante sugerindo um coração. A sensação é de
um pulsar distante como se o ouvíssemos através de uma bolha de água. Seria
esse som, como alguns dizem, o mesmo que talvez ouvíssemos dentro do
líquido amniótico no útero materno em nossa primeira formação, como embrião
e depois como o bebê próximo de nascer, mas que desde o início já
sentia intuitivamente o afeto materno? Se for mesmo, tenho que admitir que
é uma genial invenção, que tenta nos levar de volta ao aconchego e à
segurança materna, há tempos perdidas. Esse efeito no baixo criado por Waters
já existia de forma ainda não definida nos álbuns anteriores e, a partir do The
Dark Side of the Moon, torna-se marca registrada. Entre tantas outras
qualidades, talvez esse som do coração através da bolha d’agua seja uma das
magias indecifráveis na música desse grupo, cuja existência já ultrapassa
três décadas, conseguindo o que ninguém até hoje conseguiu: unir em um
mesmo show adolescentes de 13 anos juntos com senhores
avôs sessentões. Todos aqueles que, desde o final dos anos 60 até os
dias de hoje, se aproximaram, de um forma ou de outra, da música do grupo,
sentem uma dívida de gratidão ao grupo por essa sensação de aconchego, difícil
de ser explicada. Talvez seja essa característica que percorre o
subterrâneo de nossa mente, e que faz com que se identifiquem três
gerações - neto, pai e avô - juntos em um mesmo estádio ou diante do mesmo
aparelho de som, reunidos atentamente a um mesmo tipo de música, que vem
vencendo as mudanças e variações de preferência tão comuns em nosso tempo.
Depois desse
álbum, ainda são lançados Wish You Were Here, em 1975, e Animals,
em 1977, duas obras-primas do rock progressivo. Arranjos, música, letras,
performance impecáveis! Assim termina a segunda fase do grupo, que entra,
então, no período de The Wall, 1979, onde se faz nítido o domínio
tirânico de Roger Waters, criando esse álbum conceitual, a partir de suas
próprias vivências transportadas a um personagem chamado Pink que
engloba, além do líder, todo o grupo em uma só pessoa. Mas, apesar de toda transferência das
experiências individuais de Waters ao contexto poético e filosófico do álbum, o
personagem central Pink é, mais uma vez, nitidamente inspirado na loucura de
Syd Barrett. Todas as letras e quase toda a música são de Waters, que leva os seus
medos e fantasmas ao inconsciente coletivo, tornando-se com isso uma espécie
de porta-voz de uma geração inteira, que se identifica com o seu processo
de ascensão e queda nos questionamentos existenciais, chegando a um julgamento
inevitável imposto pela Sociedade em que vivemos: - Derrube o
muro!!!!! Eis a condenação. Cada tijolo no muro representa as
privações afetivas do personagem Pink, o pai que morre na guerra, a solidão de
seu tempo de menino, a sensibilidade de artista que aumenta cada vez mais, a
revolta com os métodos de ensino, a traição da mulher, e, por fim, o fundo do
poço: a danação e a queda nos alucinógenos. Na época que surgiu o show, toda
uma geração sentiu-se naquela pele apertada de um ser angustiado que se perde
em seu próprio mundo fechado por um muro. Dos shows ao cinema foi um passo. Em
1982, o cineasta também britânico, Alan Parker, interrompe todas as
atividades para filmar a história de Waters. Surge o filme que tornou
ainda mais contundente a angústia existencial do cantor de rock se
debatendo no cárcere das lembranças. A partir daí não havia mais
caminho comum nem para Waters nem para o Pink Floyd. O gênio,
coroado, perde-se de si mesmo e afasta-se do pouco que ainda lhe restava
acreditar.
Seguindo The Wall, mas com um
espaço de 3 anos, surge, em 1982, The
Final Cut. Musicalmente é um ótimo álbum mas não teve a mesma
acolhida porque repete o tema já excessivamente gasto na proposta
anterior. O restante do grupo apenas executa a música. Nenhum outro crédito de
composição consta no trabalho. Waters faz tudo. Torna-se a alma total do Pink
Floyd, mas com um notável decréscimo pela não participação dos outros membros.
Termina aí: o líder deixa a banda após ferinas discussões e monumentais
brigas porque queria retirar o logotipo de megaempresa do Pink Floyd e
dissolvê-lo, pois era o que se havia tornado. O grupo de rapazes idealistas e
amantes das artes erguera um império com investimentos em diversas áreas da
economia cujas cifras já eram de alcance multinacional. Como indivíduos já
tinham perdido o controle, ficando distante o primordial motivo que os
levou a fazer música.
A
Fase Gilmour: 1983 até os dias atuais
O grupo segue pela sua quarta fase sem
Roger Waters, principal responsável pelo aspecto cerebral das composições,
ficando na liderança o guitarrista David Gilmour, que conduz o barco sozinho,
com a participação quase indiferente dos outros dois membros. Dois álbuns
apareceram, um em 1987 A Momentary Lapse of Reason, bastante fraco se
comparado aos das fases anteriores, e em 1994, The Division Bells,
muito bom trabalho, que trouxe o bom presságio de que o Pink Floyd duraria por
muitos anos ainda, o que não foi verdade, pois hoje, com o silêncio do grupo,
não sabemos se realmente seguirá, ou se está preste a acontecer o último
suspiro do cisne.
Waters,
durante quase duas décadas, ficara oculto, lançando de vez em quando algum
álbum. Nenhum deles obteve o resultado que se esperava de um músico
considerado por muitos como um gênio do rock. Outros pensaram que ele
realmente tinha seguido o amigo Syd Barrett, fazendo-lhe companhia em uma casa
de alienados. Mas não ocorreu isso. Em 2001 empreendeu uma extensiva
jornada na qual realizou muitos shows, mostrando que ainda está vivo, em
atividade e que ainda ocupa o seu lugar no business do rock.
No
entanto, creio eu, banda e líder dissidente jamais vão se
reunir novamente em gravações, nem vão repetir isoladamente a qualidade
que, em outras épocas, conseguiram juntos. Não há problemas quanto a isso.
Já deram a sua inestimável contribuição à história desse gênero tão
ramificado e controvertido que é o rock. Sem dúvida alguma, a formação do grupo
no período áureo continuará sendo a de um dos maiores e mais
importantes que já existiram, se não for o maior. Resta-nos o consolo das
obras registradas. E, ouvindo-as, estaremos certamente rendendo o nosso
tributo ao Pink Floyd, o grupo de rock progressivo da
Inglaterra.
Ailton
Rocha
2003, maio
Deixo aqui o excelente Dark Side of the Moon na íntegra para vocês apreciarem...
Sim, eles são coreanos e quebram tudo também e fazem as devidas homenagens à nossa consagrada Asa Branca de Luiz Gonzaga...
Vale a pena ver. Uma mistura de devoção e musicalidade natural, usando instrumentos típicos da cultura deles. Reparem nos desenhos da flauta e na energia que a banda emana...
...a poucos metros de uma árvore incendiária, eu caía em mim "todo o universo" e tudo que restava da vida se perdia em... ... ... ... poemas!
E se nada Acontecer –
Se os rostos deformados e
os mendigos, os olhos famintos e as mãos que interrogam, a carne que sangra e
afoga os desejos;
Se tudo isso se transformar em cinza e ausência
e a vida acenar ainda?
E se o silênciopesarsobre o grito de angústia, se a esfinge
recolher seu sorriso transfigurado, se todos os sonhos forem abortados... e se
nada acontecer? E se tudo isso não tiver a menor importância?
...
Antônio Pinto de Medeiros Filho nasceu em Manaus
e morou no Rio Grande do Norte. Formou-se em Direito, mas não exerceu a
profissão, pois tinha vocação a literatura.