Hum.... tempo de grandes reflexões...
Nossa aventura ontem foi em busca dos mundos :
Erudito X Popular !!!!!!! Interessante análise...
Investigamos algumas facetas destes horizontes e pudemos continuar conhecendo
um pouco de nosso universo - a música brasileira...
Assistimos exclusivamente o encontro inesperado de Hermeto
Pascoal e Elis Regina no festival de Montreaux na
Suiça na década de 70... História pra lá de alucinante.... e
música .... é......... é.......... bem.......... "sobrenatural????"
Caminhos interessantes, como disse ontem, Erudito ou Popular
??? Acho melhor.... - música de fronteira ! Como Mehmari, Gismonti, Guinga,
Nelson ângelo !!!
Guinga - Age Maria
André Mehmari - Quase um Anjo
Egberto GIsmonti - Palácio de Pinturas -
Nelson ângelo - 1974
Falamos também do universo feminino. Onde estão as mulheres
na música.. ?? Compositoras ???
Apoiados na importância de Clara Schumann, deixo aqui uma
curiosa reflexão sobre as mulheres na música !!! Não deixem de guardar este
material... E desde já peço permissão ao Estado de Sâo Paulo para republicar este interessante texto.
O exílio feminino na criação erudita
Segunda-feira, 09 de Julho de 2007 às 17h28
O Estado de S.Paulo
'Esta separação temporária deixou claro para mim que nossa
situação é particularmente difícil. Será que preciso sacrificar meu talento só
para servir como seu companheiro de viagem? E, inversamente, será que você tem
que
jogar seu talento no lixo só porque estou acorrentado à
revista e ao piano? ' Robert Schumann estava mais
deprimido do que o seu normal naquele início de março de
1842. Ele, com 32 anos, largara sozinha a bela esposa Clara, de 23 aninhos, em
plena turnê. O estopim foi a recepção à pianista em Oldenburg para a qual
Robert
não fora convidado. As brigas se sucediam, ele reclamando
daquela 'indigna situação' e de ela sequer programar peças dele em suas turnês.
A coisa não estava mesmo fácil. Mas o fato é que Clara Schumann (1819-1896)
teve oito filhos com Robert, sustentou a casa praticamente todo o período de casamento,
de 1834 a 1856,
pagou as internações dele. Deu casa, comida, roupa lavada ao
marido e à penca de filhos. E - ia esquecendo -
ainda encontrou tempo para compor.
Quando se fala em mulheres e música, Clara é a primeira a
ser citada. Com justiça - ela foi única na relação
marido-mulher na primeira metade do século 19. E sua
música tem certo interesse, como o público poderá
conferir no Festival de Inverno de Campos do Jordão no dia
18, quando Sonia Rubinsky será solista do seu
Concerto para Piano e Orquestra, ao lado da Sinfônica de
Campinas. Clara inverteu de modo fulminante a condição da mulher musicista do século 19 para cá. Um rápido
exame mostra uma lista de cantoras e pianistas bem grande. Mas quando se pensa nas autoras, o
cenário é outro. Muito rarefeito. Atribui-se o fato à repressão, bem mais
pesada, contra a mulher como compositora. Como cantora e instrumentista, tudo
bem, mas aventurar-se num domínio eminentemente masculino era petulância
demais.
As histórias da música em geral recalcam as mulheres
compositoras - preconceito que só agora começa a ser enfrentado pela
musicologia. No século 18, várias mulheres trabalhavam com música nas centenas
de
pequenas cortes espalhadas pela Europa. Às vezes
escondiam-se em pseudônimos para não provocar a fúria masculina. É o caso de
uma tal de Miss Philharmonia. Não se tem nenhuma documentação sobre ela,
a não ser seis divertimentos e seis sonatas, publicados em
Londres no século 18. Outra figura rara foi Anna Bon di Venezia,
que trabalhou como cravista na corte de Bayreuth. Encantado com ela, seu patrão lhe
que trabalhou como cravista na corte de Bayreuth. Encantado com ela, seu patrão lhe
deu o título de 'virtuosa di musica di camera'. Ana Bon
também tocou na orquestra de Esterhazy,
comandada por Josef Haydn. Escreveu até uma missa e uma
ópera, que se perderam. Morreu em 1765.
sobrenome também ilustre. Ambas foram compositoras e merecem
ser ouvidas com atenção. Porém, só são conhecidas daqueles que se dispõem a ler
as biografias de Mendelssohn e Schumann. Fanny
nasceu em 1805, quatro anos antes de Félix. Juntos formavam
o par perfeito ao piano.
Ela estudou composição com Zelter, o mesmo professor de
Félix; casou-se com o pintor Hensel. Chegou a publicar seis lieder com o nome
do irmão, mas o restante de suas obras só foi publicado postumamente. A Sony
acaba de lançar no mercado internacional um ótimo CD com a pianista Lauma
Skride. O prato principal e exclusivo é o ciclo pianístico O Ano - 12 Peças
Características, assinado por Fanny. A graça, leveza e adequação de
sua escrita pianística são incontestáveis.
Episódios de recalques e preconceito com relação às mulheres
compositoras continuaram
ocorrendo no século 20. O genial jornalista e polemista
vienense Karl Kraus escreveu, em carta de 1916: 'Hoje Schoenberg veio me
visitar (...) mostrei-lhe a Metamorfosi de Dora (poema de Kraus musicado por
Dora Pejacevic, amiga de ambos). Ele considera natural que uma mulher não pode
ser uma criadora musical, mas mesmo assim elogiou a composição.' É claro que a
situação melhorou, a ponto de a grande pedagoga da
Stravinsky-Prokofiev-Shostakovich dominar a cena russa
durante a primeira metade do século, a
segunda metade tem em mulheres dois terços da atual trinca
de ouro: Alfred Schnittke (1934- 1998)
No Brasil, o século 20 foi pródigo em grandes musicistas. É
impressionante a longevidade das três maiores figuras feministas na música
brasileira. A soprano Bidu Sayão
viveu 97 anos, entre 1902 e 1999; a pianista
viveu 97 anos, entre 1902 e 1999; a pianista
Ainda bem que o Festival de Inverno de Campos do Jordão,
antenado, além de convidar
intérpretes como a pianista Cristina Ortiz ou as musicistas
do Trio Eroica, escolheu Jocy de Oliveira
como compositora residente desta edição. Perto de completar
70 anos em 2007, esta paranaense tocou Stravinsky regida pelo próprio, teve
obras dedicadas a ela por nomes como Luciano Berio e Iannis Xenakis. E é hoje a
mais importante compositora brasileira dedicada à criação multimeios, ou
multimídia.
Gestos como este, de escolher a mulher como tema de um
festival inteiro, são conseqüência direta da
emergência do feminismo e dos 'estudos culturais', que
felizmente acabaram, de certa forma, com os preconceitos recorrentes na
história da música. Sempre haverá os 'porcos chovinistas', gente como o
compositor
americano Charles Ives (1874- 1954), que esculhambava
até autores machos sobre os quais pairasse
a menor dúvida sobre sua masculinidade. Dizia, por exemplo,
que Chopin devia usar saias.
Mas, cá entre nós, uma pesquisa sempre ajuda a calar a boca
dos preconceituosos. Foi o que fez
Marianne Hassler, no artigo Biologia e Criatividade, incluído
em Il Sapere Musicale, terceiro volume da enciclopédia editada pela Einaudi
italiana e coordenada por Jean-Jacques Nattiez (2002, Turim). Ela se perguntou:
será que a composição de uma mulher vale menos do que a de um homem?; o método
de compor feminino se
reconhece, por exemplo, no tipo e número dos
instrumentos escolhidos?; as mulheres compõem de modo diverso dos homens, ou
seja, existe um estilo de composição feminino?; e as mulheres compositoras têm
traços de personalidade diferentes dos homens compositores? Todas as respostas
são negativas.
Não é possível estabelecer qualquer diferença marcada.
Hassler foi fundo. Para responder à primeira pergunta, 17 rapazes e 13 moças
compuseram uma pequena peça; executaram uma peça; improvisaram livremente;
e improvisaram sobre um tema dado. Quatro
especialistas julgaram os resultados sem conhecer os autores.
Não foi possível destacar nenhum critério composicional
tipicamente masculino ou feminino.
Finalmente: há um estilo feminino e um masculino de composição?
O psicanalista Carl Jung dizia que o homem extrai suas forças criativas de sua porção
feminina, digamos assim; e que as mulheres fazem exatamente o contrário, ou seja, deixam aflorar seu lado
masculino ao criar. Jung considera como qualidades femininas a intuição e o sentimento orientado
para o lado pessoal, enquanto as
habilidades masculinas privilegiam a ordem, o pensamento e a
organização. A partir disso,
espera-se que, ao compor música, os homens tendam para
a intuição e as mulheres à racionalização.
Baseando-se em informações biográficas de Dora Pejacevic (a
amiga de Schoenberg e Kraus acima citada),
Younghi Pagh-Paan e de Alban Berg, as análises concluíram
que Dora compunha de modo masculino,
enquanto Paan e Berg escreviam à feminina (epa). Portanto,
também não é possível atribuir um estilo
composicional determinado ao sexo do compositor.
Resumo da ópera: recalcadas por tantos séculos, as mulheres
usaram a bandeira feminista para contar
uma outra história - a das mulheres na música. Aí o
preconceito se inverte, mas o resultado permanece
distorcido, como aponta o musicólogo Alastair Williams no
livro Constructing Musicology (Ashgate,2001).
Exumam-se cadáveres que mereciam permanecer sepultados, na
grande maioria dos casos; deseja-se, no fundo, estabelecer cotas para as
mulheres na música, como se faz hoje polemicamente com relação às raças nas
universidades brasileiras: 'Virginia Woolf e Jane Austen não precisaram ser
exumadas, nem as qualidades
de sua escrita esperavam ignoradas para serem redescobertas.
Mas há poucas, se é que há, mulheres
compositoras disponíveis para estudo.' É rigorosamente
verdadeiro. Garimpa-se, garimpa-se, mas,
excetuando-se o século 20, são raros os nomes - e menos
ainda os realmente consideráveis.
A conseqüência mais importante e benéfica de tsunamis como o
feminismo e os 'cultural studies',
dos anos 50 para cá, foi dar um safanão na musicologia, a
disciplina guarda-chuva dos estudos musicais,
que dormiu no berço esplêndido da música absoluta por
séculos. Felizmente, hoje, não dá mais para continuar pensando a música de modo
descolado da realidade social, cultural, econômica e política - como teimam em
continuar fazendo, de modo anacrônico, diversos departamentos de música das
universidades brasileiras,
sobretudo as mais estreladas (que recusam sistematicamente
proposta de teses de mestrado e/ou doutorado envolvendo aspectos sociais da
música; por isso, as mais interessantes migram para outros departamentos, como
história, literatura e comunicações). A música só ganha significado rebatida
contra os panos de fundo citados.
Claro que é possível descrever a música em termos de
estruturas, mecanismos formais ou modelos de
sonoridade, diz a musicóloga Carolyn Abbate em Unsung Voices
(Princeton, 1991). O ridículo, complementa, é 'considerar tudo isso como
análise neutra, uma espécie de nível zero da verdade objetiva. Já nos
demos
conta de que este nível zero é um lugar fictício'.
As mulheres, por exemplo. Julgar de modo neutro a produção
das (raras) autoras que conseguiram tornar
públicas suas obras nesse panorama de 'nível zero da verdade
objetiva' é, diz com humor Carolyn Abbate,
'como se a Lolita de Nabokov deixasse de ser a narração de
uma história trágica com divertidos episódios pornográficos para se tornar
simplesmente uma coletânea de belas palavras'. É o mesmo que faz
Stravinsky
em sua Poética Musical, na qual diz que a música é uma
'linguagem sem nenhum traço de conexão com a sociedade'.
Isso é encarar a música como pura sonoridade, postura anacrônica que dominou o estudo e a sua interpretação nos últimos 200 anos. E que hoje parece, aleluia, datada.
Isso é encarar a música como pura sonoridade, postura anacrônica que dominou o estudo e a sua interpretação nos últimos 200 anos. E que hoje parece, aleluia, datada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
O administrador do Blog do Conservatório não publicará comentários anônimos. Por favor identifique-se. Obrigado.