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Suite Brasileira para Violoncelo e Piano (Mehmari)

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sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Pérolas do Rocha! Zelenka!

É com muita alegria que apresento-lhes a estréia em nosso blog das "Pérolas do Rocha". Meu amigo e pesquisador incansável da arte e da música, Ailton Rocha, nos revela sua mais nova descoberta, a obra do compositor da Boêmia - Jan Dismas Zelenka, Abaixo vocês poderão desfrutar um pouco deste universo num belo texto de apresentação e introdução deste importante compositor barroco.


(Não deixem de conferir outros textos imperdíveis sobre música e arte no blog Palavra e Melodia de Ailton Rocha.)
http://palavraemelodia.blogspot.com.br/


Vamos ao tesouro! Vamos ao texto!
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Jan Dismas Zelenka(1679-1745)



A ‘Missa Votiva’ de Zelenka

(ailton rocha)

“Esta obra não foi criada como encomenda, o que a torna um exemplo ainda maior de arte vinda da necessidade mais íntima da alma. Escrevera-a Zelenka como agradecimento ao Criador pelo recuperação da saúde, após um doloroso período de enfermidade...”



Um excelente compositor que descobri por esses dias é Jan Dismas Zelenka (1679-1745). Apesar de exumado no século passado, nos anos 50, ainda hoje continua sem a atenção que merece. Essa pouca vontade de nossa era a um dos mais originais compositores barrocos é uma das maiores injustiças que já vi. Caso não conheçam, recomendo-o veemente.

Surpreendentemente original, Zelenka estrutura a orquestra como os compositores do século 20. Ao ouvi-lo em uma programação de rádio, tive quase a certeza de que era compositor moderno, da época de Poulenc. Uma das características que mais distingue Zelenka de seus contemporâneos, além do inventivo contraponto, é o ritmo, com enfoque no grave para se destacar entre o agudo dos violinos. Nota-se na estruturação de sua orquestra um papel importante permitido às violas da gamba, porque raramente usava os violoncelos. No baixo contínuo é que há uma persistente marcação – dançante, eu diria – inusitada na música sacra. As síncopes quase polirritmicas tornam o som diferente e único. Ritmos assim seriam explorados quase à exaustão só pelos compositores dos princípios e meados do século 20. E Zelenka, sendo ao mesmo tempo moderno, levando em conta a época em que viveu, soa na polifonia também como um renascentista erudito. De forma que nesse compositor entrelaçavam o passado e o futuro, admiravelmente. Eis o estilo de Zelenka: um Palestrina do século 20, embora vivesse nos meados do século 18, contemporâneo de Albinoni, Vivaldi, Telemann, Bach e Handel. Telemann era amigo particular dele. E Bach que também o conhecia, admirava-o imensamente. Ao ler o ‘Magnificat em Ré maior’ pela primeira vez, disse: trata-se de um excelente compositor. É avaliação de Bach. Acho que não preciso dizer mais nada. E pasmem! Ainda hoje Zelenka continua quase desconhecido para a maioria. Mas quem o conhece não economiza admiração.

Sabe-se pouco da vida pessoal de Jan Dismas Zelenka. Nascido em Praga, na época pertencente à Boêmia, foi educado em colégio jesuíta que consolidou a sua fé católica, à qual continuou fiel a vida toda. Essa sinceridade religiosa é nítida na obra do compositor. Após estudos em Viena e na Itália, fixou-se em Dresden, Alemanha, como obscuro contrabaixista na orquestra da corte; na verdade, o seu instrumento era o 'violone', do qual originou-se o contrabaixo moderno. Iniciando relativamente tarde como compositor - com a idade de 30 anos - dedicou-se quase que exclusivamente à música sacra, com algumas poucas incursões pelas obras orquestrais (5 Capriccios, concertos e ouvertures) e de câmara (os famosos 6 Trios Sonatas, de 1721, muito apreciados pelos contrabaixistas). No gênero coral sacro, com mais de centena e meia de títulos, distinguem-se as 22 missas - algumas delas, diríamos,  são as mais belas e originais do período Barroco - apenas superadas pela ‘Missa em Si menor’ de Bach - o que não é pouco pois essa missa colossal de Bach, verdadeira catedral invisível, é um dos maiores monumentos artísticos da humanidade. Da vida pessoal de Zelenka há poucos registros. Sabe-se que nunca se casara, não deixou filhos nem discípulos. Pessoas que com ele conviveram testemunham que era “homem bom e pacífico, sábio e muito religioso”. Em Dresden viveu mais da metade da vida. Das pouquíssimas vezes que viajara foi para apresentar em Praga uma de suas obras, a única escrita para palco: ‘Sub Olea Pacis’ (1723), uma espécie híbrida de oratório em latim, ópera e música incidental com danças. Essa obra, atualmente aclamada como uma obra-prima, na época foi o único sucesso do compositor em público.       

Hoje as Missas de Zelenka são consideradas o ponto mais alto na totalidade de sua obra, cujo pináculo está nas ‘Missa Votiva’ (1739), ‘Missa Dei Patris’ e ‘Missa Dei Filii’ (1740), e ‘Missa Omnium Sanctorum’ (1741), todas escritas na última década de sua vida; sendo que as três últimas formam uma trilogia que o compositor não ouviu em vida, a não ser no coração, pois só foram apresentadas duzentos anos depois. Recomendo-as. Realmente, de uma inteligência musical impressionante, de uma originalidade como poucas no tratamento das vozes polifônicas do coro em contraste com os solistas homofônicos, às vezes no estilo alegre do 'rococó', às vezes dramáticos como em uma ópera ou intimistas como em uma prece, ou em tom popular, utilizando as danças folclóricas da Boêmia, seu país de origem; tudo isso acompanhado ora pelo uníssono das cordas em tessitura cromática, ora pelos diálogos contrapontísticos de violinos e violas. Negar a beleza estonteante dessa música é o mesmo que negar o brilho do sol.

Tornei-me um admirador incondicional das missas desse compositor boêmio-tcheco. Para compreenderem que não estou errado, sugiro que ouçam atentamente a ‘Missa Votiva’ nesta admirável interpretação do jovem regente Václav Luks. Esta obra não foi criada como encomenda, o que a torna um exemplo ainda maior de arte vinda da necessidade mais íntima da alma. Escrevera-a Zelenka como agradecimento ao Criador pelo recuperação da saúde, após um doloroso período de enfermidade, semelhante ao que fizera Beethoven, quase um século depois, no movimento lento do Quarteto de Cordas Op.132.

O júbilo do coro que há na ‘Missa Votiva’ e os momentos etéreos dos solistas, principalmente a soprano, são água cristalina, poesia pura, expressão artística da mais alta sinceridade - uma comovente certeza de que uma Inteligência Suprema paira sobre nós, que nos protege e ampara nos momentos mais difíceis da jornada.  

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Acredito que todos ficaram curiosos.................vamos entrar então na música deste magistral compositor.

Ouçam sem moderação.