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Suite Brasileira para Violoncelo e Piano (Mehmari)

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sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Beethoven "Supreme"! A "Eroica!"

Ludwig Van Beethoven - 1770-1827

...Esta semana fui visitar a caverna mágica de meu amigo Flávio Caldonazzo, caverna esta cercada por tantos gigantes da arte. Seu recanto é sublime e aconchegante . Lá, a hora é imortalizada de prazer e deleite. É o perpetuar da amizade e da troca. E como aprendo ouvindo as histórias que ele me conta. De música, literatura, cinema, pintura, psicologia e tudo mais.....................mas o que temos em comum é certamente este desejo de compartilhar estes universos supremos da Arte. E assim em horas a fio de conversas e conversas, Flávio Caldonazzo brada e me diz que precisa ler um texto: E assim me ponho a todos "ouvidos" a entrar neste texto formidável que ele lê e fico ao final da leitura, estupefato e sem reação.

Nada mais que Beethoven! Nada mais que a Sinfonia que definitivamente mudou os rumos da História da Mùsica. A "Eroica!"

Com a palavra o crítico e jornalista:
*H.L.MENCKEN*

BEETHOVEN

Beethoven foi um daqueles homens cuja estatura, vista em retrospecto, só parece crescer. Quantos movimentos não surgiram para pô-lo definitivamente na prateleira? Pelo menos uns dez nos cem anos desde a sua morte. 

Houve um em Nova York, em 1917, lançado por críticos bocós e estimulado pela febre da guerra: pregava que o lugar de Beethoven seria tomado por profetas das novas luzes, como Stravinski. O saldo daquele movimento foi o de que a melhor orquestra da América foi a falência – e Beethoven sobreviveu sem um arranhão. 

Claro que o século XIX não foi deficiente em grandes músicos. Produziu Schubert, Schumann, Chopin, Wagner e Brahms, para não citar hordas inteiras de Dvoráks, Tchaikovskis, Debussys, Verdis e Puccinis. Nenhum deles nos deu nada melhor do que o primeiro movimento da Heróica. Aquele movimento, o primeiro desafio da nova música, continua a ser a última palavra. É a peça mais nobre de música absoluta já escrita em forma de sonata e é também a mais nobre em música descritiva. Em Beethoven, a distinção entre as duas formas era puramente imaginária. Tudo que ele escreveu era, de certa forma, descritivo, incluindo até as primeiras duas sinfonias, e tudo era música absoluta. Deve ter sido uma brincadeira dos deuses, a de opor Beethoven, em seus primeiros dias de Viena, ao papa Haydn. 

Haydn era inegavelmente um gênio e, depois da morte de Mozart, não tinha qualquer razão aparente para temer um rival. Se ele não criou realmente a sinfonia como a conhecemos hoje, pelo menos enriqueceu a forma com suas primeiras autênticas obras-primas – e não com uma ou duas, mas literalmente com dezenas. As mais complexas harmonias pareciam jorrar dele como petróleo de um poço. Mais ainda, sabia como dominá-las, porque era um mestre da arquitetura musical. Mas, quando Beethoven entrou em cena, o velho Haydn teve de descer um degrau. Era uma gazela contra um touro: com um bramido, o combate**terminou. 

Os músicos costumam ver neste combate uma mera disputa entre técnicos. Admitem que a habilidade e engenhosidade de Beethoven eram muitíssimo maiores – que tinha um controle mais seguro sobre seu material, mais ousadia e criatividade, um conhecimento muito maior da dinâmica, dos ritmos e dos matizes –, em suma, uma musicalidade tremendamente superior. Mas não foi isto que o tornou tão superior a Haydn – porque este também tinha suas superioridades: por exemplo, seu constante estado de alerta inventivo, sua capacidade para escrever melhores canções. O que alçou Beethoven acima do velho mestre foi a sua dignidade como homem.

 Os sentimentos expressos por Haydn pareciam os de um pároco de aldeia, de um corretor da Bolsa ou de um violista carinhosamente enternecido por Kulmbacher. Quando chorava, era com as lágrimas de uma mulher que acaba de descobrir uma nova ruga; quando se mostrava feliz, era com a alegria de uma criança na manhã de Natal. Em contrapartida, os sentimentos que Beethoven punha em sua música eram os sentimentos de um deus. Havia algo de olímpico em suas iras e rosnados; e, quando gargalhava, era com um toque do fogo do inferno. Literalmente, não há um traço de vulgaridade em toda a sua obra. Nunca é doce ou romântico; nunca derrama lágrimas convencionais; nunca toma atitudes ortodoxas. Em suas passagens mais ligeiras, há a imensa e inescapável dignidade dos velhos profetas. Ele se preocupa, não com as agonias transitórias do amor romântico, mas com a eterna tragédia do homem. Ê um grande poeta trágico e, como todos os grandes poetas trágicos, obcecado pela inescrutável falta de sentido da vida. 

Da "Heróica "em diante, raramente desligou-se deste tema. Ele ruge através do primeiro movimento da "Dó Menor "e chega à sua estupenda declaração final na "Nona". Tudo isto era novo em sua época, causando murmúrios de surpresa e até indignação.

 O passo dado, da Júpiter de Mozart para o primeiro movimento da Heróica, foi perturbador; os vienenses começaram a ficar inquietos em suas primeiras filas. Mas havia um entre eles que não se inquietou, e chamava-se Franz Schubert. Consulte o primeiro movimento da sua "Inacabada "ou o lento andamento da Trágica e constate como o exemplo de Beethoven foi rapidamente seguido – e com que gênio. Houve um longo hiato depois disto, até que o dia 6 de novembro de 1876 amanheceu em Karlsruhe e, com ele, veio a primeira apresentação da Dó Menor de Brahms. Mais uma vez os deuses tinham entrado numa sala de concerto – e entrarão de novo quando nascer outro Brahms, não antes, porque nada pode sair de um artista que já não esteja no homem. 

O que minimiza a música e todos os Tchaikovskis, Mendelssohns e Chopins? Ê o fato de que é a música de homens vazios. Bonita, sim, e freqüentemente – à sua maneira. Ê infinitamente engenhosa, profissional e tem certas idéias musicais encantadoras. Mas é tão oca, no fundo, quanto uma bula papal. Ê música de homens de segunda classe. 

Beethoven desprezava todos estes artifícios: não precisava deles. Seria difícil pensar em outro compositor, mesmo de quarta classe, que trabalhasse com um material temático de tão pouco mérito intrínseco. Apropriava-se de canções onde as encontrava; construía-as a partir de fragmentos de motivos folclóricos; à falta do resto, contentava-se com uma simples frase ou algumas notas. Via tudo isto como material em estado bruto; seu interesse se concentrava em como usá-lo. Era a este uso que ele emprestava o impressionante poder do seu gênio. Sua engenhosidade começava por onde outros haviam parado. Suas estruturas mais complicadas retinham a clareza abrangente do Parthenon. E, delas, tirou uma espécie de sentimento que nem os gregos poderiam igualar; Beethoven era preeminentemente um homem moderno, sem o menor traço de barbárie. Em sua música havia o alto ceticismo característico do século XVIII, mas ele lhe insuflou o novo entusiasmo, a nova determinação de desafiar e bater os deuses, típicos do século XIX. Quanto mais envelheço, mais me convenço de que nunca houve um fenômeno tão portentoso na história da música quanto a primeira apresentação pública da "Heróica", a 7 de abril de 1805. Os redatores do programa camuflaram a obra com tantas camadas de especulações banais que seus méritos intrínsecos quase foram esquecidos.

Seria ela dedicada a Napoleão I? E, se era, a dedicatória seria sincera ou irônica? E daí? – quero dizer, e daí, para quem não seja surdo? Ela poderia ter sido dedicada a Luís XIV, a Paracelso ou a Pôncio Pilatos, sem fazer a menor diferença. O que a torna digna de discussão, hoje e sempre, é o fato de que, logo na primeira página, Beethoven atirou seu chapéu na arena e proclamou sua imortalidade. Sem concessões, sem pontes fáceis com o passado. A Segunda Sinfonia fica quilômetros para trás. Nascia uma nova espécie de música, cheia de desafios. Sem introduções melífluas ou conciliatórias; sem rodeios preparatórios para levar a platéia no bico e dar tempo ao regente para encontrar o seu lugar na partitura. Nada disso. Uma furiosa colisão da tríade tônica saía do silêncio e, de repente, sem pausa, a primeira exposição do primeiro assunto – amargo, dominador, áspero, rouco e, curiosamente, belo – com seu impressionante choque contra o elétrico dó sustenido. A carnificina começava cedo; estávamos ainda apenas no sétimo compasso. No 13º e 14º, o incomparável rolar da escala em mi bemol – e o que se seguia era tudo que já havia sido grande estilo, talvez tudo que "será "dito, sobre como fazer música em grande estilo. 

Tudo que se fez depois, inclusive por Beethoven, foi à luz daquele exemplo perfeito. Cada compasso da música moderna honesta tem uma dívida de gratidão para com aquele primeiro movimento. O resto da Heróica é beethovenês, mas não a sua quintessência. Diz a lenda que a marcha fúnebre só foi incluída por que era uma época de morticínios por atacado, e marchas fúnebres estavam em moda. Sem dúvida, aquela platéia da estréia em Viena, chocada e confusa pelos sucessivos desafios do primeiro movimento, deve ter ficado grata pela lúgubre melodia. Mas, e o "scherzo"? Outra perversa investida contra o pobre Haydn! Dois gigantes em luta diante de uma orquestra de anões soprando como loucos. Não admira que um sincero vienense gritasse das galerias: “Eu pagaria mais um "kreutzer "se esta coisa parasse!”. Bem, finalmente parou e então veio algo mais tranqüilizador – um tema com variações. Todos em Viena conheciam e adoravam os temas com variações de Beethoven. Ele era, de fato, o mestre dos temas com variações. Mas havia um coringa entre as cartas. As variações ficaram mais e mais complexas e surpreendentes. Coisas estranhas começaram a acontecer e aqueles exercícios tradicionalmente educados tornaram-se tempestuosos, temperamentais, cacofônicos e trágicos. No final, um áspero e exigente tumulto de acordes – era a "Sinfonia em Dó Menor" projetando a sua sombra. Deve ter sido uma grande noite em Viena. Mas, talvez, não para os próprios vienenses. Eles tinham ido ouvir “uma nova sinfonia em ré sustenido” (sic!). E o que encontraram no "Theater-an-der-Wien "foi uma revolução.– 1926-

HL Mencken -  Crítico e jornalista americano - 1880-1950

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Façam parte desta revolução. Vamos ouvir esta engenhosa obra numa execução memorável de Gunter Wand


segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Paris! Um acalanto!

Maurice Ravel - 1875-1937
Silêncio! Mudo! Um afagar da noite e do dia fantástico. Tanto para aprender. Tanto para ouvir. Tanto para ser, compartilhar. Um mundo de música que não cabe no peito. Paris de Satie, de Debussy e de Ravel...............e de tantos outros mestres..........um cheiro de lembranças...............nas ruas que passei, ao sentir o poema que se ajoelha na Liberdade. E os sons que tanto me levam para outras jornadas, para paralelos de universos que muitos fecham os olhos ou desconhecem. Ahhhhhhhhhh Paris!

Duas gerações de artistas máximos - Martha Argerich e Lang Lang e com eles o presente especial de Maurice Ravel - A Suíte Mamãe Ganso! Uma carícia neste momento de tanto silêncio...........Que invada as almas, que acalme as dores, que leve ao paraíso da arte, todos que sofrem!

De joelhos, olhos fechados e pronto para o voo sem fim no mundo dos sons..........compartilho aqui esta maravilha:

https://www.youtube.com/watch?v=yoy0W37sHRs

Martha Argerich

Lang Lang






terça-feira, 3 de novembro de 2015

Parede Falante - Eduardo Galeano

Fiquei arrebatado pelo "O Livro dos Abraços" do escritor e poeta Uruguaio - Eduardo Galeano.

Esta Parede Falante vem ventando o que hoje acredito que o mundo mais precise: - Ser abraçado em sua totalidade. As pessoas estão cada vez mais distantes umas das outras e a educação anda cada vez mais superficial e solitária em sua principal função que deveria ser - Educar.

Este livro vem como um arrebatamento aos tempos de solidão que estamos vivendo. E se a vida aqui é tão urgente, acredito que a todo momento em que nosso poeta uruguaio escreve, tudo vira obra de arte e como ensina....

Eduardo Galeano - 1940-2015

E assim compartilho o que chamo de Música em palavras:

A Função da Arte/ 1

Diego não conhecia o mar. O pai, Santiago Kovadloff, levou-o para que descobrisse o mar.
Viajaram para o Sul.
Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas, esperando.
Quando o menino e o pai, enfim alcançaram aquelas alturas de areia, depois de muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos. E foi tanta a imensidão do mar, e tanto o seu fulgor, que o menino ficou mudo de beleza.
E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai:
- Me ajuda a olhar!


O mundo

Um homem da aldeia de Neguá, no litoral da Colômbia, conseguiu subir aos céus. Quando voltou, contou. Disse que tinha contemplado, lá do alto, a vida humana. E disse que somos um mar de fogueirinhas.
— O mundo é isso — revelou — Um montão de gente, um mar de fogueirinhas.
Cada pessoa brilha com luz própria entre todas as outras. Não existem duas fogueiras iguais. Existem fogueiras grandes e fogueiras pequenas e fogueiras de todas as cores. Existe gente de fogo sereno, que nem percebe o vento, e gente de fogo louco, que enche o ar de chispas. Alguns fogos, fogos bobos, não alumiam nem queimam; mas outros incendeiam a vida com tamanha vontade que é impossível olhar para eles sem pestanejar, e quem chegar perto pega fogo.



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Acredito fortemente nestas duas maravilhas acima. É preciso "olhar", olhar no sentido maior. Olhar imensamente, dos lados, pelo todo, se perder no mar.

Ahhhhhhhhhhh "mundo"!

Obrigado Galeano por estes diamantes em palavras e que você descanse em paz no reino da Arte!