Dica de Filme! Já nas Locadoras!

"NÃO ACREDITE EM NADA QUE SEU PROFESSOR DIZ! QUESTIONE TUDO!


HANS-JOAQUIM KOELLREUTTER




Suite Brasileira para Violoncelo e Piano (Mehmari)

Suite Brasileira para Violoncelo e Piano (Mehmari)
NOVIDADE: https://www.youtube.com/watch?v=NymoG_qNyLY

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Conversa Afinada - Samuel Chacon

Super afinados e de volta. Desta vez temos o prazer de conversar com o jovem músico e baixista, Samuel Chacon
Músico raro, estudioso e um apurado ouvinte, Samuel nos brinda com caminhos para um bom desenvolvimento da escuta musical e da interpretação. 

Fico muito contente de trazer pessoas que estão preocupadas com a evolução do aprendizado e sobretudo, preservam e contribuem para a música de qualidade.

Confiram cada detalhe abaixo de nossa conversa e tenho certeza que vocês terão grandes momentos e aprenderão muito.




Satie - Samuel, você poderia contar-nos como se deu seu primeiro contato com a música? Que horas decidiu ser músico?

Samuel - Antes de tudo, gostaria de agradecer pela oportunidade. Eu estudei com o Edgard em 2007 quando me preparava para o vestibular. E foi então que eu comecei a ver tudo de maneira diferente.
Eu “decidi” ser músico logo antes de entrar no ensino médio, mas penso que a escolha a ser feita não é essa. A decisão a ser feita é a de viver com a música. E eu escolhi que esse seria o meu trabalho. Pra mim, ser músico é algo tão maior que tocar (ou compor, etc.) que é difícil saber exatamente quando entendemos e aceitamos essa situação.
Meu primeiro contato com a música (ou melhor, com um instrumento) foi ao aprender violão com um músico chamado Thiago Gaiga, de Poços de Caldas. Lembro-me que ele estava me ensinando a tocar algumas músicas do Metallica e de como eu fiquei impressionado em como ele conseguia ouvir a música e tocá-la. Eu não conseguia entender como alguém poderia ouvir e tocar, sem estudar ou ler.

Satie -  Você formou recentemente na conceituada UNICAMP. Como anda o curso de Música Popular por lá? O que mudou na sua visão musical?

Samuel - Esse é um assunto bem complicado. Haha.
O curso da Unicamp tem muitas coisas boas, mas tem alguns problemas também. Infelizmente, a instituição tem muito sucateamento e esbarra por diversas vezes em burocracias desnecessárias que impedem o bom funcionamento da mesma. Tive professores muito bons, de renome nacional e internacional, mas que muitas vezes não priorizavam o ensino, ficando muito tempo fora em turnês e sem repor as aulas. Ou que simplesmente faltavam ou deixavam a desejar em outros tópicos. Havia também a falta de estrutura física e de equipamentos para o funcionamento de algumas disciplinas.
Mas é claro que não eram todos os professores e funcionários. Tive ótimos professores que se aplicavam e dedicavam às disciplinas e demonstravam respeito e apreço pela função de educador.
Mas mesmo com todos esses problemas (que, diga-se de passagem, a maior parte das escolas, universidades e instituições com ensino de música têm) eu adorei o tempo que passei na Unicamp. Tive MUITO contato com músicos bons e criativos. O ambiente é o que eu mais sinto falta. Um lugar fértil para ideias e iniciativas, discussões e grupos de estudo. Repleto de cultura por todos os lados e opções para desfrutar uma boa música, teatro, cinema ou coisas assim. Esse convívio mudou muito a minha visão musical. Eu passei a me preocupar mais com musicalidade do que com qualquer outra coisa. As notas não são importantes. A maior parte delas só faz sentido dentro do discurso e do gesto musical. A intenção com que se faz algo é muito mais interessante do que a teoria.

Satie -  Contra-baixo acústico ou elétrico? Qual deles te arremata hoje? Quais são os nomes do baixo em maior destaque atualmente para você?

Samuel - Essa é fácil. Baixo Elétrico!haha
Eu adoro o timbre do acústico, mas fui criado no elétrico. Se eu ainda puder ser mais específico, prefiro o fretless (que é um baixo sem os trastes). Adoro o timbre roncado dele.
Recentemente tive a felicidade de assistir alguns dos grandes nomes do instrumento em dois festivais (Rio das Ostras Jazz e Blues – RJ; BMW Jazz Festival – Sp) e todos eles me impressionaram muito:
No festival de Rio das Ostras eu assisti os baixistas Victor Wooten
e Steve Bailey;


Arthur Maia com participação do PIPOQUINHA (por favor, se vocês não souberem, procurem saber quem ele é)
 e o Stanley Clarke.

E em São Paulo, eu assisti o show da Esperanza Spalding, do cd Radio Society.

 Esse show foi o que eu mais me impressionei na vida. De verdade!
Foi um show extremamente musical. Eu nunca havia visto nada igual. Não foi um show convencional de Jazz com temas e improvisos. Além de tocar e cantar muitíssimo bem, ela compõe muito bem. Letras muito boas, melodias e quase todo o discurso do show é musical.
Mas seguindo adiante, citarei alguns nomes que são importantíssimos e recomendo muito:
Adriano Giffoni, Avishai Cohen, Collin Edwin, Garry Willis, Marcus Miller, Richard Bona, Sean Malone, Thiago Espírito Santo, Zuzo Moussawer, entre outros tantos.
E claro, existem aqueles que serão referências sempre: Nico Assunção, Jaco Pastorius e James Jamerson.

Satie -  Você saberia escolher três álbuns que foram fundamentais em sua vida?

                Samuel - Eu diria que é difícil escolher, mas vamos lá:

                                           Zuzo Moussawer – Express


A indicação foi do meu primeiro professor de baixo, o Dinho. Fiquei perplexo com a quantidade de sons que esse cara faz no baixo, diversas técnicas misturadas e até sobrepostas de um jeito absurdo e com uma sonoridade única. Tive muita vontade de aprender a tocar assim e conseguir fazer todos aqueles sons.


                      Dream Theater – Scenes From a Memory
Foi o primeiro disco de metal progressivo que eu ouvi e claro, fique impressionado com as técnicas dos músicos, mas acima de tudo porque gostei (e muito) de álbuns com concepção. Isso é algo que me encantou, a forma como o CD parece ter sido composto baseado na música Metropolis Pt. 1. Todo derivado e desdobrado das ideias de uma música só.


                                                                    Pat Metheny Group – This Way Up
Seguindo essa ideia de derivação e desdobramentos, esse disco me impressionou muito e acho que ele complementou a ideia do CD anterior. Adorei como ele foi composto e construído.O jeito como as melodias dançam e voltam e mudam e são as mesmas. A interpretação, improvisos e timbres não precisam nem que eu fale algo. Está tudo lá. Foi esse disco que eu ouvi e pensei: “Quero fazer algo assim!”.


                               Victor Wooten e Steve Bailey – Bass Extremes
Esse disco foi muito importante pra mim porque foi ele quem me iniciou na vida do baixo fretless. Ao ouvir e me impressionar com a qualidade dos músicos e das músicas, bem como ter a transcrição de todas as músicas, me fez querer muito estudar e analisar cada trecho. Junto com o baixista Robson Baroli, a quem conheci na Unicamp, começamos o projeto BaroliChacon para estudar esses sons juntos. Foi então que eu aprendi diversas técnicas e aprimorei outras no fretless.


Eu disse que seria difícil escolher apenas três.

Satie - Sei que você viajou bastante e ainda continua tocando por aí e assim passa por vários estilos musicais. Tem algum estilo que mais goste de tocar ou se sinta totalmente realizado?

               Samuel - Essa pergunta é mais difícil ainda. Eu gostei muito de todas as bandas que eu toquei, mas não todos os estilos. Tem alguns que eu simplesmente não me identifico assim, como o blues. Gosto muito de ouvir, mas na hora de tocar é outra coisa. Totalmente realizado é mais complicado ainda. Nós temos sempre que expressar o que queremos com a música, mas é difícil falar de tudo de uma só vez, sabe? Às vezes, é bom gritar, tocar alto e rápido, mas tem horas que prefiro tocar uma música lenta e melancólica, com muitas notas longas, baixo bem grave e com timbre aveludado. Geralmente eu gosto mais de tocar certas músicas, que certos estilos. Uma coisa é certa, eu sempre gosto de tocar compassos tortos, principalmente quando ainda há polirritmia envolvida. hahaha

Satie - Na formação de músico popular é imprescindível um ouvido mega bom. Que dicas você daria para os alunos treinarem e conquistarem uma melhor compreensão desta habilidade?

                Samuel - Agora chegamos ao ponto chave. O mais importante de tudo!
  .A primeira coisa que eu posso falar é pra confiar no seu ouvido. Não tenha medo de tentar tirar uma música, transcrever um solo ou tentar compor. Mesmo que você não tenha uma base teórica ou técnica, você tem ouvido e isso nos basta para começar. Sou contra usar afinador sem ao menos tentar afinar no ouvido antes. Infelizmente, já era tarde quando eu aprendi esse tipo de coisa, por isso usei editor de tablaturas para tirar músicas durante uns quatro anos. Demorei a começar a tirar músicas de ouvido, mas quando eu comecei não quis parar nunca mais.
                Hoje em dia, eu treino de uma forma muito interessante. Eu transcrevo músicas sem instrumento na mão. Essa necessidade veio das viagens e da otimização do tempo para tirar as músicas. Eu ia ouvindo os repertórios do show durante toda a viagem para, no mínimo, decorar as formas e já ir pegando um ou outro riff, groove ou parte da harmonia mesmo.
O primeiro,e mais importante, passo é ouvir muito.
Outro passo interessante para estudar percepção é tocar e cantar intervalos. Primeiro eu toco e depois eu canto (sempre de forma diatônica e depois livremente). Em seguida eu faço tudo junto (cantar e tocar). Ao final, eu começo a cantar o intervalo antes de tocar e toco somente para corrigir a afinação. Com o tempo, você consegue parar de tocar o violão para conferir todas as notas.
Com o tempo, conseguimos acostumar com os sons dos intervalos e das referências de grau, por exemplo, mesmo que você não saiba o tom da música, você memoriza (pelo som) os graus daquela música (I-VIm-IIm-V7-I). Isso facilita muito nosso trabalho na hora de transpor e de recordar e de entender as funções de cada acorde.
Seja como for, inventando seus métodos, usando os de outras pessoas, NUNCA deixe de acreditar e confiar no seu ouvido. E de usá-lo, claro!

Satie - Samuel, o que é música?

        SamuelEssa pra mim é uma resposta muito mais simples e direta do que muitos pensam:


                Música, pra mim, é tudo.

..............
Agradeço imensamente ao Samuel Chacon por esta entrevista super construtiva e definitivamente, mais uma grande aula de música. 

Pessoal, não deixem de anotar os nomes e referências que nosso amigo Samuel deixou, e pesquisem pra valer.

Aí vai um pouco da música de Samuel Chacon

2 comentários:

  1. Obrigado pela oportunidade, meu caro.
    Espero que vocês gostem!

    Abraços.
    Samuel Chacon

    ResponderExcluir
  2. Sou músico de BH e aprendi MUITO com o Chacon!

    Parabéns por escolherem uma pessoa tão talentosa para ser entrevistada!

    Abraços,

    João Gabriel

    ResponderExcluir

O administrador do Blog do Conservatório não publicará comentários anônimos. Por favor identifique-se. Obrigado.