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segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Pink Floyd - O Coração Oculto da Lua

Faz tempo que queria recomendar este texto do meu amigo e poeta Ailton Rocha. Aqui temos uma síntese muito lúcida para conhecer este grande conjunto do rock progressivo.

Acompanhem o histórico da banda e depois procurem os álbuns para uma audição mais cuidadosa e profunda. Agradeço a gentileza do Rocha por ceder este texto para nosso blog.

Boa viagem...


PINK FLOYD – O Coração Oculto da Lua

                                                                                 
A importância do grupo britânico Pink Floyd é inquestionável pela contribuição ao rock psicodélico do final dos anos 60 e  ao rock progressivo dos anos 70; enfim, independente de movimentos ou modismos, os cinco músicos (Barrett, Waters, Gilmour, Wright e Mason) que formaram o grupo em diferentes etapas, já enriqueceram a música em geral, através de uma coesa estrutura de harmonia e lírica. Na fase inicial, verifica-se uma nítida influência de blues e jazz associada a sons espaciais colhidos do genial compositor Bela Bartók e com inspiração nos temas de autores de ficção científica, além de pesquisas com ritmo árabe, microtons indianos, e experimentações eletrônicas e concretistas, inspiradas na música erudita moderna. Em 1973, Pink Floyd, com uma sofisticada instrumentação, atingira a maturidade ao criar um estilo diferente de tudo antes ouvido, e que se tornou marca registrada: guitarra e bateria ricamente melódicas e sem virtuosismo, baixo com som de coração pulsante, teclados com arranjos elaboradíssimos. Enfim, criatividade inesgotável que prevaleceu até o instante em que a egolatria de um dos membros fragmentou a unidade do grupo.


A Fase Barrett: 1966-1969


         Constituído de estudantes de arquitetura da classe média da Inglaterra conservadorista,  Pink Floyd surgiu em 1965, sendo integrantes do grupo o sui generis letrista e compositor Syd Barrett na guitarra e vocais; Roger Waters, também compositor,  no baixo e vocais; Richard Wright, um tecladista apaixonado por Beethoven, e Nick Mason, um dos bateristas mais criativos que já existiram.

Batizando a banda a partir dos nomes de Pink Anderson e Floyd Council, dois tecladistas de blues, Barrett, o primeiro líder, direcionou os propósitos. A música teria letras com teor psicodélico, cujo tema, entre vários, seria a busca do indíviduo nos meandros de sua própria mente, além, é claro, da referência aos efeitos dos alucinógenos. O som também refletiria essa sensação. Era o surrealismo chegando até a música popular.

Mas o período liderado por Barrett durou pouco, seja porque ele mesmo tenha mergulhado em uma viagem sem retorno ao mundo do LSD e congéneres, tendo que ser afastado de suas atividades de letrista e compositor principal, seja porque Roger Waters, um outro membro da banda, vinha, aos poucos, assumindo o comando.

A Fase Waters: 1969-1982


         David Gilmour, em 1968, toma o lugar de Barrett como guitarrista solo;  a princípio paralelamente, e depois, a partir de 1969, totalmente. Com sua guitarra compõe a marca registrada e inconfundível da beleza melódica do Pink Floyd. É um guitarrista diferente, não há pressa nele, é infenso a solos rápidos, mas, com segurança, de maneira calma, vai conduzindo a música que brilha -em tons de amarelo-cromo rumo ao desconhecido de nossa mente. Wright, de formação erudita, cujo órgão é um dos principais responsáveis pelo som espacial do grupo, preenche as pausas dessa guitarra despreocupada para que ela atinja os seus vôos na viagem pinkfloydiana. Nick Mason não é apenas responsável pelos efeitos percusivos; ele, na verdade, conduz o ritmo como melodia indissociável da marca sonora do grupo. A bateria não acompanha simplesmente, mas aparece com frequência como instrumento solista, com o auge criativo nas suites “Atom Heart Mother” e “Echoes”.      

Assim, o Pink Floyd foi se direcionando a um som cada vez mais elaborado. As pesquisas sonoras, buscando ritmos árabes e melodias indianas, como é o caso de Set the Controls for the Heart of the Sun, ou desenvolvendo ruídos e  sensações vindas do espaço profundo como Astronomy Domine e A Saucerful of Secrets, chegaram a um nível de sofisticada criatividade jamais vista até então em um grupo de rock. Nos diversos caminhos e experimentações dessa fase inicial ocorreram álbuns como Atom Heart Mother e Meddle, obras geniais, sendo que no primeiro tiveram a colaboração de um arranjador erudito moderno, Ron Geesin, aproximando-os dos efeitos de uma música concreta ainda mais elaborada; e, no segundo, já com uma sonoridade mais característica do grupo, chegam àqueles resultados incríveis de Echoes, a peça conceitual de Meddle, que muitos consideram o melhor álbum da primeira fase do grupo. A sensação é de estarmos em um submarino, e a música, vinda das galerias marítimas, chega até nós em ecos aquáticos. O texto que se canta aí é dos melhores possíveis. As letras de Waters, com influência do poeta inglês William Blake, embora não admitida, são verdadeiros poemas, de beleza plástica que ainda não vi se repetir no mundo do rock.

Até então, nos princípios dos anos 70, o Pink Floyd era um grupo frequentado e respeitado principalmente pelas elites universitárias, com um nítido reconhecimento em vários países da Europa, principalmente na França. Mas a fama internacional ainda não tinha acontecido. Esta só viria a partir de 1973, iniciando a segunda fase do grupo, com o lançamento do álbum The Dark Side of the Moon. Antes de esgotar totalmente o lado ‘underground’ do rock psicodélico, de que fora talvez o mais importante representante, o grupo se renovou, superando o estilo da época, embora ainda utilizasse o concretismo. No momento em que muitos pensavam que os rapazes, após pelo menos três álbuns de excelente qualidade, estavam esgotados e não havia como não se repetirem, aparece The Dark Side of the Moon, uma das obras mais ricas e instigantes não apenas do rock, mas de todos gêneros populares de música. Para se ter uma idéia da aceitação e da perenidade do álbum, consta que no primeiro ano já havia recebido o disco de platina, que significa um milhão de dólares vendidos, trocando em miúdos, um caminhão dos grande cheio até a boca de dinheiro. Até hoje, após 30 anos no mercado, o álbum está entre os mais vendidos na Inglaterra, nos EUA, e em muitas partes do mundo. Confunde-se, normalmente, a quantidade de venda com o real valor de um trabalho, pois nem sempre andam juntos, amparado que são pela máquina publicitária, mas não é o caso deste trabalho admirável. O valor artístico, fora de dúdivas, prevalece. Desde o tema - o lado escuro da lua -, sobre a alienação mental, a mesma loucura de que fora vítima o primeiro líder Syd Barrett, talvez já incubada e depois agravada pela ingestão de drogas, até a inegável originalidade do som, o álbum não perde o nível proposto. Canções como Time, Money e Us and Them, que se tornaram hits, atingiram o raro resultado de agradar tanto ouvintes intelectualizados como outros mais coquetes e despreocupados diante de questões filosóficas. E filosofia é a marca de Time, a descrescência do tempo, a incapacidade de segurarmos o sol que nasce e se põe incontáveis vezes, e, nesse incessante aparecer e morrer vem a idéia da eternidade e, do mesmo modo, a efemeridade da vida. As palavras são algumas das melhores realizações de Waters como poeta, muito acima de simples letrista. Money, fortemente social, trata das questões econômicas do capitalismo. Us and Them, de beleza melódica marcante, é permeada de um doce e melancólico saxofone, porém  áspero nos momentos de clímax. O álbum desfecha em Brain Damage e Eclipse, com a voz de Waters cantando e tentando sentir a dor de seu amigo Barrett em alienação, perpassada de angústia e riso que gela a alma, já que se trata da loucura, circunstância em que o espírito mergulha na noite dos sentidos. Além dessas mais festejadas, há The Great Gig in the Sky, que até hoje impressiona.

Neste álbum, a meu ver, está também uma das mais geniais e criativas contribuições de Roger Waters como arranjador de seu próprio instrumento, o baixo. De ponta a ponta do álbum há um som pulsante sugerindo um coração. A sensação é de um pulsar distante como se o ouvíssemos através de uma bolha de água. Seria esse som, como alguns dizem, o mesmo que talvez ouvíssemos dentro do líquido amniótico no útero materno em nossa primeira formação, como embrião e depois como o bebê próximo de nascer, mas que desde o início já sentia intuitivamente o afeto materno? Se for mesmo, tenho que admitir que é uma genial invenção, que tenta nos levar de volta ao aconchego e à segurança materna, há tempos perdidas. Esse efeito no baixo criado por Waters já existia de forma ainda não definida nos álbuns anteriores e, a partir do The Dark Side of the Moon, torna-se marca registrada. Entre tantas outras qualidades, talvez esse som do coração através da bolha d’agua seja uma das magias indecifráveis na música desse grupo, cuja existência já ultrapassa três décadas, conseguindo o que ninguém até hoje conseguiu: unir em um mesmo show adolescentes de 13 anos juntos com senhores avôs sessentões. Todos aqueles que, desde o final dos anos 60 até os dias de hoje, se aproximaram, de um forma ou de outra, da música do grupo, sentem uma dívida de gratidão ao grupo por essa sensação de aconchego, difícil de ser explicada. Talvez seja essa característica que percorre o subterrâneo de nossa mente, e que faz com que se identifiquem três gerações - neto, pai e avô - juntos em um mesmo estádio ou diante do mesmo aparelho de som, reunidos atentamente a um mesmo tipo de música, que vem vencendo as mudanças e variações de preferência tão comuns em nosso tempo.

Depois desse álbum, ainda são lançados Wish You Were Here, em 1975, e Animals, em 1977, duas obras-primas do rock progressivo. Arranjos, música, letras, performance impecáveis! Assim termina a segunda fase do grupo, que entra, então, no período de The Wall, 1979, onde se faz nítido o domínio tirânico de Roger Waters, criando esse álbum conceitual, a partir de suas próprias vivências transportadas a um personagem chamado Pink que engloba, além do líder, todo o grupo em uma só pessoa.  Mas, apesar de toda transferência das experiências individuais de Waters ao contexto poético e filosófico do álbum, o personagem central Pink é, mais uma vez, nitidamente inspirado na loucura de Syd Barrett. Todas as letras e quase toda a música são de Waters, que leva os seus medos e fantasmas ao inconsciente coletivo, tornando-se com isso uma espécie de porta-voz de uma geração inteira, que se identifica com o seu processo de ascensão e queda nos questionamentos existenciais, chegando a um julgamento inevitável imposto pela Sociedade em que vivemos: - Derrube o muro!!!!!  Eis a condenação. Cada tijolo no muro representa as privações afetivas do personagem Pink, o pai que morre na guerra, a solidão de seu tempo de menino, a sensibilidade de artista que aumenta cada vez mais, a revolta com os métodos de ensino, a traição da mulher, e, por fim, o fundo do poço: a danação e a queda nos alucinógenos. Na época que surgiu o show, toda uma geração sentiu-se naquela pele apertada de um ser angustiado que se perde em seu próprio mundo fechado por um muro. Dos shows ao cinema foi um passo. Em 1982, o cineasta também britânico, Alan Parker, interrompe todas as atividades para filmar a história de Waters. Surge o filme que tornou ainda mais contundente a angústia existencial do cantor de rock se debatendo no cárcere das lembranças. A partir daí não havia mais caminho comum nem para Waters nem para o Pink Floyd. O gênio, coroado, perde-se de si mesmo e afasta-se do pouco que ainda lhe restava acreditar.

Seguindo The Wall, mas com um espaço de 3 anos, surge, em 1982, The Final Cut. Musicalmente é um ótimo álbum mas não teve a mesma acolhida porque repete o tema já excessivamente gasto na proposta anterior. O restante do grupo apenas executa a música. Nenhum outro crédito de composição consta no trabalho. Waters faz tudo. Torna-se a alma total do Pink Floyd, mas com um notável decréscimo pela não participação dos outros membros. Termina aí: o líder deixa a banda após ferinas discussões e monumentais brigas porque queria retirar o logotipo de megaempresa do Pink Floyd e dissolvê-lo, pois era o que se havia tornado. O grupo de rapazes idealistas e amantes das artes erguera um império com investimentos em diversas áreas da economia cujas cifras já eram de alcance multinacional. Como indivíduos já tinham perdido o controle, ficando distante o primordial motivo que os levou a fazer música. 

A Fase Gilmour: 1983 até os dias atuais

         O grupo segue pela sua quarta fase sem Roger Waters, principal responsável pelo aspecto cerebral das composições, ficando na liderança o guitarrista David Gilmour, que conduz o barco sozinho, com a participação quase indiferente dos outros dois membros. Dois álbuns apareceram, um em 1987 A Momentary Lapse of Reason, bastante fraco se comparado aos das fases anteriores, e em 1994, The Division Bells, muito bom trabalho, que trouxe o bom presságio de que o Pink Floyd duraria por muitos anos ainda, o que não foi verdade, pois hoje, com o silêncio do grupo, não sabemos se realmente seguirá, ou se está preste a acontecer o último suspiro do cisne.

Waters, durante quase duas décadas, ficara oculto, lançando de vez em quando algum álbum. Nenhum deles obteve o resultado que se esperava de um músico  considerado por muitos como um gênio do rock. Outros pensaram que ele realmente tinha seguido o amigo Syd Barrett, fazendo-lhe companhia em uma casa de alienados. Mas não ocorreu isso. Em 2001 empreendeu uma extensiva jornada na qual realizou muitos shows, mostrando que ainda está vivo, em atividade e que ainda ocupa o seu lugar no business do rock.

No entanto, creio eu, banda e líder dissidente jamais vão se reunir novamente em gravações, nem vão repetir isoladamente a qualidade que, em outras épocas, conseguiram juntos. Não há problemas quanto a isso. Já deram a sua inestimável contribuição à história desse gênero tão ramificado e controvertido que é o rock. Sem dúvida alguma, a formação do grupo no período áureo continuará sendo a de um dos maiores e mais importantes que já existiram, se não for o maior. Resta-nos o consolo das obras registradas. E, ouvindo-as, estaremos certamente rendendo o nosso tributo ao Pink Floyd, o grupo de rock progressivo da Inglaterra.        



Ailton Rocha
2003, maio



Deixo aqui o excelente Dark Side of the Moon na íntegra para vocês apreciarem...


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